O que isto significa? Significa que, por mais que nos esforcemos, nós não conseguimos ser inteiramente racionais e objetivos. Nas nossas análises e conclusões estaremos sempre influenciados pelas nossas experiências, emoções, interesses, crenças, valores, etc. Isto é natural e humano, o que se faz necessário é a consciência destas influências sobre nosso pensamento e nosso julgamento, e como elas criam
bloqueios à criatividade e à aceitação de idéias inovadoras.
Um exemplo tirado da história de medicina ilustra bem o efeito das percepções e dos conceitos dominantes sobre o nosso pensamento e os bloqueios que eles geram.
Como os preconceitos matam as boas idéias
Até meados do século 19 era comum um médico passar de um paciente para outro, ou mesmo da autópsia de um cadáver para exame de uma pessoa viva, sem lavar suas mãos. O médico húngaro Ignaz Semmelweis (1818 a 1865), que trabalhava com um grupo de parteiras numa das clínicas do Hospital Geral de Viena, notou a grande diferença da taxa de mortalidade entre as parturientes de sua clínica e as parturientes da clínica que era atendido pelos médicos professores da universidade a que o hospital estava ligado. A taxa de mortalidade devida à febre puerperal na clínica dos professores era de 13,1%, enquanto na sua clínica era de 2,03%. Ambas as clínicas funcionavam no mesmo hospital e usavam as mesmas técnicas. A única diferença eram as pessoas que trabalhavam nelas, numa professores e estudantes, na outra médicos e parteiras.
Semmelweis concluiu que a febre puerperal era causada por “partículas” dos cadáveres introduzidas nas parturientes através das mãos dos professores e estudantes. Na época a teoria dos germes ainda não havia sido desenvolvida, mas Semmelweis intuiu que a infecção era causada por alguma coisa que passava dos cadáveres para as parturientes. Ele realizou um cuidadoso estudo estatístico comparando a mortalidade das duas clínicas e conclui com a recomendação de que os médicos sempre lavassem suas mãos antes de atender um paciente.
Apesar de todas as evidências, as reações contrárias foram muito fortes e as recomendações de Semmelweis foram ignoradas. Suas conclusões contrariavam a teoria médica dominante que atribua as doenças ao desbalanceamento dos quatro fluídos corporais (humores): sangue, bile negra, bile amarela e fleuma. Alguns médicos alegaram que suas conclusões careciam de base científica, não passando de pura superstição: mortos espalhando a morte entre seres vivos. Outros julgavam muito trabalhoso lavar as mãos antes de atender cada paciente. Aceitar as recomendações de Semmelweis era admitir de que vinham sendo a causa de tantas mortes. Em alguns hospitais, a mortalidade entre as parturientes chegava a 35%.
Em 1851, Semmelweis retornou para a Hungria, onde, a partir de 1857, suas idéias foram adotadas, resultando em notável redução da mortalidade entre as parturientes. Em Viena, na clínica onde Semmelweis tinha praticamente erradicado as mortes por febre puerperal, a taxa de mortalidade chegou a 35% no verão de 1860. Mesmo assim, a adoção de suas recomendações foi muito lenta.
Como você reage às novas idéias?
Este caso é um exemplo terrível de uma situação em que, apesar de todas as evidências objetivas, o progresso científico foi barrado pela inércia dos profissionais detentores do “saber” dominante. O termo Reflexo Semmelweis, atribuído a Robert Anton Wilson, significa a rejeição ou negação imediata e automática de qualquer informação, sem análise, inspeção ou experimento.
Como evitar o Reflexo Semmelweis, uma tendência muito comum quando nos apresentam idéias que desafiam o saber convencional e nossa maneira usual de fazer as coisas? Este será o assunto de outro artigo. Por enquanto, meu conselho é o seguinte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário