Há um tempo atrás, logo após o meu post sobre Campeonatos Mundiais, o Marcos me procurou para discutir ritmo de trabalho. Vendo o meu stress pós submissão-de-artigo, ele aproveitou o meu aniversário para me mandar um presente: um livro, chamado Ócio Criativo. Eu deveria ler e postar neste blog os meus comentários sobre o mesmo. Aceitei prontamente o desafio e aqui estou. Espero que gostem da análise.
Domenico de Masi e o Ócio.
Antes de tudo apresento-lhes o autor do livro: Domenico de Masi um sociólogo italiano, que foi considerado, por muito tempo, um workaholic, uma pessoa que se dedicava tanto ao trabalho que esquecia da família, dos amigos, das festas e da vida. Saiu deste coma quando descobriu o Ócio, otimizou suas condições de trabalho e reduziu seus compromissos. Continua altamente produtivo, mas não tão hiperativo. Apesar de não declarar isso, Domenico é um apaixonado pela cultura brasileira, pela forma de vida alegre e responsável dos brasileiros. Escreveu vários livros, entre eles: Desenvolvimento Sem Trabalho, A Emoção e a Regra, O Ócio Criativo e O Futuro do Trabalho nos quais não mede esforços para citar brasileiros como Oscar Niemeyer e Fernando Henrique Cardoso. É professor de Sociologia do Trabalho na Universidade La Sapienza de Roma, além de ser diretor da S3 Studium, uma escola de especialização em ciências organizacionais.
O livro, por sua vez, é uma imensa entrevista. De um lado, uma jornalista, do outro um sociólogo. Em foco, a mudança de época: de uma era industrial, padronizada, racional e voltada ao produto, para uma era estética, onde o tempo com a família é muito mais valorizado, a criatividade é aguçada e a ciência transforma-se em marketing. De Masi discute sobre a mudança de época, características de cada uma delas, o tele trabalho, o ócio, um novo modelo de trabalho e suas repercussões. É um livro muito bom para quem acredita que o mundo pode mudar, para quem acredita que há algo errado no sistema de trabalho humano, para quem acredita que trabalhamos demais e vivemos de menos. É um livro para quem gosta de discutir as muitas abordagens e variações da engenharia de software, principalmente para os defensores de metodologias ágeis. É um livro para gerentes, analistas, desenvolvedores e consultores, do estagiário ao executivo. É um livro que não te responde nada, mas te faz pensar muito. A grande sacada do ócio de De Masi pode aplicada em uma nova era, desejada por muitos e desenvolvida por poucos. A era onde cérebro transforma-se em matéria prima e vende-se o que não existe: as idéias.
Em suma, o livro é impressionante e chato, contraditório e evasivo, realista e utópico, desfocado e obcecado. Uma obra de arte brilhante. A seguir eu colocarei as minhas opiniões sobre o mesmo e as idéias de De Masi. Vou entregar o ouro, então se você deseja ler o livro, pare por aqui. Leia-o e depois volte.
O livro e meus comentários
A primeira parte do livro, até por volta da página 140, trata apenas sobre mudanças de era, épocas e suas características. Fala-se sobre as famosas ondas de Toffler, sobre a sociedade agrária e industrial, sobre como definir uma sociedade pós-industrial e como distingui-la das outras. Infelizmente esta parte, para quem não gosta de história, é muito chata. A revisão apresenta grandes e pequenas histórias, muitas vezes sem foco algum e sem qualquer influência sobre a teoria do ócio. Nada fora do comum para uma conversa entre uma jornalista metida a historiadora e um sociólogo. Revela ainda que a entrevistadora Maria Serena Palieri, ou não entendeu o seu papel no livro, ou é uma tapada, pois dirige a entrevista como um bêbado dirigindo um carro.
Após esta maçante introdução, o foco se dirige à teoria do ócio e muitas coisas começam a ser descobertas e esclarecidas aos leitores. De Masi fala muito sobre o declínio das ideologias tradicionais, industriais, mostrando que o estilo de vida voltado ao produto, aos padrões, a racionalidade, ao tempo e a sincronização está decaindo. " Os países industriais não sabem mais nem rir, nem se divertir ", diz ele. A sociedade industrial, com tempos fixos, linhas de montagem e lucros em larga escala está se tornando a sociedade da robótica. Cada vez mais, os humanos deixam de efetuar trabalhos braçais, repetitivos, e passam a trabalhar com idéias, com a mente. De Masi lembra as teorias de Ford, aquele mesmo, criador da linha de montagem, dos carros e etc, nas quais se focava em padronizar produtos e forçava o mercado a comprar tudo igual, barateando o custo de produção e aumentando seus lucros. Hoje em dia não é mais assim, não se vende coisas iguais, pelo menos a cor muda, principalmente em automóveis, onde cada um " equipa " o seu de uma maneira diferente. É baseado nisso, mas não somente nisso, que o autor identifica uma mudança de época.
Na árdua tarefa de identificar o núcleo da era pós-industrial, três autores se sobressaem: Touraine diz: O coração desta sociedade é a programação, nunca foi tão fácil programar o futuro; Já Hegedus diz: O coração desta sociedade é a invenção, com ela podemos projetar e programar o futuro de forma precisa; Enquanto isso, De Masi diz: O coração desta sociedade é a informação, o tempo livre e a criatividade (pág. 128). Como aspectos que distinguem a nova era, que De Masi chamou de pós-industrial por falta de um nome melhor, estão: (i) Globalização, que cria comunidades homogêneas e heterogêneas ao mesmo tempo em escala mundial, e faz com que todo mundo saiba sobre tudo o que acontece em qualquer parte do mundo; (ii) tempo livre, quanto mais tempo para a família, mais motivados e criativos seremos. Quanto mais tempo livre necessitarmos, mais caros seremos. (iii) intelectualidade e criatividade, as moedas da nova era, os itens de compra e venda. (iv) estética, diante de vários produtos que fazem a mesma coisa, escolheremos apenas o mais bonito. (v) emotividade e feminilidade, adeus a era dos homens, bem vinda à era das mulheres.
Falando sobre estética, uma das frases que mais me deixaram intrigado foi esta: - Entre relógios de pulso com 2 bilhões de oscilações por segundo, que são 200 vezes mais precisos do que o necessário, ou seja, do que um ser humano precisaria. Qual a diferencia entre eles? A estética. Estamos começando uma era em que o caráter técnico de nossos produtos não é mais avaliado. Em troca, a usabilidade, estética e flexibilidade ganham um enfoque especial. E justamente por isso que De Masi associa a nova era como a era das mulheres, pois, ao contrário dos homens, racionais, fortes, rígidos e programados as mulheres são flexíveis, intuitivas e estéticas. A força agora não vale mais nada. O poder nesta nova era não está em terras, no dinheiro ou em ações, ele vem das posses de idealização (laboratórios, centros de pesquisa, ciência) e de informação (da mídia). Um exemplo deste poder é o Vale do silício, pois concentra em uma pequena região uma imensa quantidade de idealizadores, tornando-se o centro do mundo moderno, a Meca do século XXI.
Atualmente a nossa atenção é gratuita. Está errado. Devemos vender audiência. Nosso tempo é precioso demais para gastar com ofertas e besteiróis desqualificados e que de nada auxiliam em nossas dúvidas do dia-a-dia. Não devemos mais perder tempo em deslocamentos diários. Nosso tempo é precioso demais para ficar dentro de um carro numa selva de pedra e aço. Não devemos mais perder o nosso tempo com o trabalho desmotivado. Se você não quer fazer, não faça. Vá para casa, e só volte quando tiver vontade para continuar. De Masi discute bastante o tele trabalho, apresentando detalhadamente pontos fortes, como: a extinção dos deslocamentos diários, os custos, a flexibilidade de horário e o tempo com a família; e fracos, como: a necessidade de muita disciplina, a falta de ver gente diferente diariamente, a falta do sentimento de grupo e a desmotivação.
Na teoria de De Masi, com ou sem tele trabalho, nossas horas úteis por dia e nossos dias úteis por semana devem ser alterados. Ao invés de 8, 5 horas por dia e 5 dias por semana, devemos trabalhar apenas 5 horas por dia e 3 dias por semana, passando de 40 horas por semana para 15. Loucura? Não, o raciocínio dele faz muito sentido. Já não é novidade que perdemos muito tempo útil navegando internet durante o horário de trabalho. " De acordo com pesquisa divulgada em agosto deste ano pela Websense, 25 % dos funcionários utilizam a internet no ambiente de trabalho para buscar e comprar coisas que não dizem respeito à sua vida profissional. Para a realização dos estudos, foram entrevistados 305 empregados e 250 gerentes de recursos humanos de companhias com até 38 mil funcionários. " É muito difícil medir quanto tempo desperdiçamos na internet, mas é alto. Seja realista e olhe quanto tempo você perdeu nesta semana.
Atrelado a estas horas literalmente desperdiçadas, temos as pessoas desmotivadas, com produtividade baixa que, se tivessem alguns dias de folga, certamente voltariam com mais vontade para trabalhar. Além disso, na informática, precisamos ficar em constante atualização. As horas de atualização não são horas produtivas e, por isso, muitas empresas nem permitem essa atualização em horário útil, no entanto, exigem-na de seus funcionários. De Masi diz: " devemos reduzir as nossas horas úteis para 15 horas, dispostas em 3 dias quaisquer da semana ". Imaginem se nós tivéssemos todas as segundas e sexta-feiras livres. Poderíamos fazer nossas compras, almoçar com a esposa, acompanhar nossos filhos, ir ao médico e nos atualizar. Eles seriam nossos. Além disso, que tal acordar as 7:00, ir para a academia, voltar as 8:00, tomar um bom banho e um belo café, e começar a trabalhar as 9:00 ou 10:00. Ainda assim, sair as 17:00, pegar as crianças, e chegar em casa as 18:00 para a janta. Tudo isso é regra, seria o seu dia-a-dia. A idéia central de De Masi é, com essa atitude, confundir trabalho, lazer e jogo. Ninguém mais saberia quando está trabalhando para a empresa, investindo em si, ou descansando. Mas quem pagaria por isso? A empresa de uma sociedade pós-industrial, que interessa mais ver seus funcionários felizes e produtivos do que emburrados e improdutivos. Baixaria o salário? Não.
De Masi aponta que há uma redução regular de 25% no trabalho a ser realizado em qualquer empresa. Isso significa que regularmente, a empresa poderia demitir 25% dos seus profissionais porque não há mais trabalho para eles. No entanto, atualmente em grande parte do mundo, demitir não é tão fácil assim. Como um funcionário não tem mais o que fazer e também não é demitido, para se sentir útil ele começa a criar burocracia inútil e vira chefe. A burocracia é o câncer que contaminou toda a sociedade industrial e a principal inimiga da criatividade. Graças a ela que muitas pessoas garantem o seu emprego. De Masi apresenta uma grande sacada para o problema da burocracia. Como demitir em massa é muito " feio " para a sociedade, ao invés de demitir, reduza a carga horária para as 15 horas e faça dois turnos. Seus funcionários ficarão muito felizes, continuarão produtivos e nenhum babaca vai criar burocracia desnecessária.
Num dos capítulos do livro o autor dá um puxão de orelha na grande maioria dos executivos. Os executivos e donos de empresa se sentem culpados se não " doam o seu sangue " pela empresa. Afinal eles ganham muito dinheiro, então, devem recompensar a empresa com muito trabalho. Muitos deles passam mais de 10 horas por dia na empresa, não recebem sequer hora extra e adiam para a velhice o momento de curtir a família e os filhos. O que acaba acontecendo é que a vida deles torna-se a empresa e, com o tempo, eles não sabem fazer mais nada sem ter uma secretária por perto. Uma pergunta muito interessante para fazer a um executivo é, dado que manter o padrão de vida dele custa muito caro, " Onde você gasta tanto dinheiro se quase nunca está em casa ou se divertindo com seus filhos? ". A maioria deles vai se sentir como se levasse uma marretada na cabeça. De Masi os chama de burros, com todas as letras. Primeiro porque ninguém produz boas idéias em um ritmo alienado como esse. Segundo porque estão deixando a vida passar. Se eles se disciplinassem veriam que passar uma manhã deitado numa rede é muito mais produtivo para eles do que dentro de um escritório. As idéias virão muito mais facilmente. Quer saber se você ou seus funcionários estão alienados? Tome ou dê um dia de folga. Se não surgir aquele friozinho no estômago dizendo que: " Você não deveria estar no shopping uma hora dessas ", você está livre, caso contrário tão alienado quando os executivos.
Este novo modelo de produção de De Masi se baseia unicamente em Motivação. E é aí que começam as dúvidas. Estar motivado é querer que algo continue e evolua. No entanto, grande parte das empresas (existe alguma?) só obtém lucros após a estabilização do produto, ou seja, se ela cria um novo método, no início é só prejuízo, o lucro vem após algum tempo. Estabilizar significa não mudar e, não mudar, significa chatice. Como se manter motivado diante da chatice de um emprego que não muda? A resposta está no meio do livro, quando De Masi diz: " Não há compatibilidade entre os modelos de trabalho industriais e pós industriais " (pg. 228). Ou seja, não existe fase transitória, ou você está no novo, ou no velho, ou falido. As regras que são necessárias para obtenção do lucro devem ser tomadas como um desafio e não um limite. É este desafio que manterá a Motivação em alto. De Masi exemplifica: " Meu cliente quer que eu pinte um quadro com duas mulheres, uma vaca, uma bomba nuclear e uma igreja, dispostas de maneira visível e harmoniosa. Como artista é um desafio pra mim criar uma obra de arte com regras tão específicas ".
Para adotar o ócio, precisamos antes quebrar alguns paradigmas. O que você diria para alguém que trabalha apenas 5 horas por dia e 3 dias por semana? Certo! Você diria: " Que cara vadio ". Para quem é ocioso no trabalho, você diria: " ladrão ", porque rouba o tempo de esforço no trabalho, seja do empregador ou da sociedade. Em suma, hoje o ócio é visto como um defeito e não como uma qualidade. Não nos sentimos culpados por pensar, mas nos sentimos culpados por não pensar. De Masi defende este mesmo ócio como um ócio bom. Como pode ser isso? Ou melhor, o que é ócio afinal? Como a teoria de De Masi é o Ócio, ela torna-se arriscada. É arriscada no sentido da vagabundagem. Como você suportaria a vontade de não fazer nada, sentado numa cadeira de praia ou numa rede, ao invés de se atualizar? De Masi é bem claro neste ponto. Ele diz que é a teoria do Ócio CRIATIVO, e não de qualquer ócio. Se você for disciplinado o suficiente para manter a sua mente no ócio criativo, você será muito bem recompensado no futuro. Na falta desta disciplina, deverá haver líderes carismáticos que sejam responsáveis por sua motivação. Se não houver nem um, nem outro, há grande chance de você parar na cadeia, sofrendo do mesmo mal que sofrem os pobres e desempregados, a falta do que fazer. De Masi já prevê para estas pessoas que as situações de tédio vão aumentar no futuro. Cabe a elas mudar isso.
Outro paradigma a ser quebrado é o tempo. Cronômetros são para a sociedade industrial. A sociedade pós-industrial não pode medir a sua produção pelo tempo de trabalho, assim como também não pode depender de limites de horário. Outro paradigma a ser quebrado é a inveja. Devemos parar de pensar em " Por que esse cara não está trabalhando? Eu trabalho mais que ele ". Pois a nova sociedade não tem horário e, é provável, que você verá o seu amigo com muito mais frequência quando ele estiver em seu horário de descanso. Também não podemos nos esquecer que, ao ver um amigo nosso deitado numa rede, ele pode não estar descansando, ele pode estar trabalhando.
O livro também cria uma nova classe social, chamada de " Os digitais ". Os digitais são os frutos da tecnologia. Possuem inúmeras formas de comunicação, são cultos, inteligentes e muito rápidos, frequentemente sabem mais de uma língua, nunca experimentaram o racismo, se preocupam com um desenvolvimento sustentável do planeta, lutam pela paz e contra a opressão, não se apegam a religiões, idolatram as obras de arte e são defensores da ética, da honra e da coragem. Antigamente, estas pessoas seriam poucos e estariam reunidas ao lado de grandes reis, hoje elas são muitas e estão espalhadas pelo mundo. De Masi discute em várias páginas sobre comportamentos comuns a estas pessoas.
De Masi termina o livro fazendo uma avaliação sobre alguns países de terceiro mundo, dizendo que eles são " Materialmente pobres mas culturalmente ricos ". Estes países podem passar de consumidores para idealizadores e pular o período industrial que a maioria dos países de primeiro mundo teve que passar. É o que ocorre hoje na China e em parte do Brasil. Quando a entrevistadora pergunta em qual país o desenvolvimento deste novo modelo é mais propício, De Masi responde prontamente: " No Brasil. Eu investiria na Bahia ".
O que eu citei aqui é talvez 5 % do volume de conhecimento que o livro transmite. Como eu disse antes, o livro é para pensar e não para ler. Provavelmente vou ler mais algumas vezes até digerir todo o conteúdo do livro. Obrigado Marcos, pelo presente. Certamente, foi um dos melhores que já ganhei.
The following pages are talking about "Por um Ócio mais Criativo":
• Velhice Prematura
Posted in Sep 5, 2009 by Vitor Pamplona - Edit - History
quote:
Acompanho a obra de Domenico De Masi a alguns anos e tenho procurado divulgar suas idéias.
Para um exemplo ver a seguinte trilha de mensagens em fórum da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento:
Metariqueza: um novo jeito de enriquecer
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Ver também:
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Outras mensagens interessantes neste blog (vitorpamplona):
Modelos Sustentáveis e Microsoft
Sustentabilidade não é um conceito das ciências ambientais. Sustentável é toda a ação cujo portador sobrevive em longo prazo. O atual modelo Microsoft, por exemplo, não é sustentável, assim como os modelos da Nokia e da Oracle.
Os adeptos aos modelos da Microsoft e da Free Software Foundation vêm brigando entre si há um bom tempo. Ideologias fortes, em ambos os lados, criaram comunidades fiéis e cegas que hoje, felizmente, enfraquecem a cada dia, perdendo poder técnico e político. Os dois modelos não são mais sustentáveis. Precisam mudar para sobreviver.
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Liberte-se da computação
Se você é estudante de computação e pretende fazer Mestrado, doutorado e ser um cientista / pesquisador de sucesso, ou se já é um cientista da computação de sucesso, preste atenção neste post.
Liberte-se da computação!Cabresto é a doença da maioria dos computólogos pesquisadores. Computador é uma ferramenta. Grande parte das atividades relacionadas ao desenvolvimento dele deixou de ser ciência há muito tempo. O nome ciência da computação já não faz o menor sentido. É como ter faculdades com nomes: Ciência da Calculadora, Ciência do Machado, Ciência do Microondas,...
Claro, uma parte da ciência da computação ainda é digna deste nome: ciência para desenvolvimento da arquitetura de software e hardware dos computadores biológicos ou quânticos. Mas só. Lamento. E digo mais, esta área é dominada por físicos e não por computólogos.
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Programação no Ensino Escolar
Na minha humilde opinião, três matérias deveriam ser adicionadas ao currículo escolar: (i) Legislação, (ii) tributação e matemática financeira, e (iii) programação de computadores. Legislação, para que nenhum jovem seja preso por incitar a violência no Twitter, nem por difamar colegas, por falsidade ideológica ou planejar ataques através da internet. Tributação, para que todos tenham a chance de ficar ricos, e matemática financeira para melhorar as condições de vida dos 2 bilhões de pessoas atualmente na pobreza. Por fim, computação, para que nenhum jovem seja excluído da nossa futura sociedade cibernética.
Eu comecei a trabalhar com 16 anos e, na época, eu não me conformava com o fato de não conseguir lançar uma simples nota fiscal manualmente. Tive que passar por um treinamento na empresa. Perguntava-me, todos os dias, se a escola era realmente útil, já que eu não sabia como funcionava a tributação brasileira, não conhecia meus direitos e sequer sabia o que era o mercado de ações. Na época, esse conhecimento parecia imprescindível não só para viver sem problemas jurídicos, mas também para ter lucro e ficar rico antes dos 25. Como eu ainda não estou rico, e já passei dos 25, concluo que esse conhecimento era mesmo necessário. Hoje, eu não entendo como queremos criar cidadãos melhores se as pessoas que saem do ensino médio mal sabem que uma simples crítica via Orkut pode levá-los à cadeia. O futuro para estes jovens não parece muito feliz.
Como as duas primeiras matérias são óbvias para o mundo atual, vou me ater à terceira sugestão: a computação.
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Regulamentação das Profissões de Informática
A regulamentação das profissões relacionadas a informática está em discussão na SBC desde 1976 . De lá pra cá, vários projetos foram propostos, inúmeras discussões aconteceram e ninguém chegou num veredito. Não vai ser hoje que essa discussão vai morrer. O assunto é polêmico. De um lado, os que querem liberdade e proteção para os profissionais. Do outro, os que querem melhorar a qualidade dos sistemas produzidos no Brasil. No meio de tudo, um monte de gente ignorante aos berros tentando defender lados que não existem.
Primeiramente, sou contra o atual projeto de regulamentação da profissão de analista de sistemas que circula no congresso. O projeto não tem origem em nenhum dos partidos dessa discussão e, da forma como está hoje, não vai ajudar em nada. É como se o PSDB defendesse um ponto de vista, o PSOL o outro, e o PMDB no meio avacalhasse tudo entrando com um projeto tosco que tenta compreender erroneamente ambas as partes.
A idéia da regulamentação não é dizer que 1 graduado é melhor que 1 profissional sem diploma. Se quiserem interpretar assim, tudo bem, mas não tornem isso o centro da discussão, por favor. >>>>> Continua
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A indústria e a academia
Ok, eu já tenho 6 anos de indústria e 4 anos de academia. Acho que posso mostrar a vocês algumas diferenças entre estes mundos tão distantes e tentar quebrar um preconceito tolo de ambas as partes: O pessoal da indústria acha que a academia não vale nada, não inova e está sempre atrasada, enquanto que a academia acha a indústria muito fútil, marqueteira e ignorante em termos inovadores.
Para a indústria, o desenvolvimento de software é visto como um processo mecânico ou criativo (varia de empresa para empresa) para a automatização de tarefas de um determinado grupo de clientes. Quem define se o software está correto e se atinge as expectativas é o cliente e, normalmente, não há qualquer fundamentação teórica durante o desenvolvimento. Os projetos são desenvolvidos em equipes, tem uma vida longa e tendem a ser utilizados no dia-a-dia. O foco é maior na maneira de como o software é desenvolvido, do que na solução em si. Muitas das soluções propostas se baseiam na informatização do caos com interfaces intuitivas ou produtivas. Apenas alguns projetos desenvolvem novos algoritmos ou novos sistemas totalmente automatizados. Os clientes definem empiricamente as melhores contribuições através do melhor produto. No trabalho em equipe, a experiência do programador lhe dá muito crédito e lhe ajuda a impor suas decisões. A inovação deste meio é sempre apenas uma parte do produto como um todo.
Já para a academia, o desenvolvimento de software é um processo de investigação e elucidação de hipóteses. Poucas interfaces são intuitivas ou produtivas e poucas implementações tem apelo comercial. Os projetos são desenvolvidos por uma pessoa apenas e, por este motivo, não seguem nenhum padrão ou metodologia de desenvolvimento. O software tem uma vida muito curta (meses), é abandonado após atingir seu objetivo inicial. Neste mundo, há um incentivo muito forte por softwares e algoritmos autônomos - sem qualquer interferência humana. Quem define se o software está correto ou não, são os números provenientes das análises estatísticas feitas pelo próprio desenvolvedor em cima do software. O formalismo do desenvolvimento e sua posterior validação definem as melhores contribuições. A experiência do programador não vale nada, a imposição de idéias e a liderança entre as equipes se dão via argumentação científica. A inovação na academia é todo o produto. Não se desenvolve nada se o objetivo não for inovar.
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