por Cezar Taurion
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Fonte: SBGC - Sinapse News Edição nº 37 - 05/11/2009
Inovação sempre existiu na nossa sociedade, mas o que vemos ultimamente é uma aceleração do processo. Inovar, em um ambiente econômico cada vez mais desafiador e competitivo, não é mais uma opção, mas uma necessidade de sobrevivência, não apenas para empresas mas também para as nações. A inovação é a arma cada vez mais decisiva na competição por espaços nobres na economia.
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Apresentação
Para mim foi um grande honra ter sido convidado para escrever a introdução deste e-book de Cezar Taurion, Evangelista Técnico da IBM, um profissional que admiro há muitos anos.
Em uma rápida consulta à internet, vemos que o termo “evangelista” vem da palavra Evangelho, que surgiu com o cristianismo e significava boas novas, ou boas notícias. E que o trabalho do evangelista é simplificar o Evangelho e persuadir os homens. Posso testemunhar que Cezar Taurion simplifica qualquer evangelho e persuade multidões, como tem feito em suas inúmeras publicações e palestras, ao longo dos últimos anos.
Neste e-book, sobre Inovação, não veremos só boas notícias. Ao contrário, logo no início já ficamos sabendo que o Brasil é o vigésimo sétimo país no ranking de patentes registradas nos EUA, entre 1996 e 2006, com 1028 patentes. Neste mesmo período, os EUA registraram 883.269 patentes, o Japão, 317.563, o Reino Unido 106.272, Taiwan 48.930 e a Coréia, 39.475. Recentemente, estamos perdendo terreno para outros países emergentes, como Índia e China.
O caso da Coréia é exemplar. Com um território oitenta vezes menor que o do Brasil, conseguiu fazer o seu produto interno bruto (PIB) crescer de US$ 65 bilhões para US$ 680 bilhões de 1980 a 2004, enquanto o PIB brasileiro evoluiu de US$ 238 bilhões para US$ 605 bilhões no mesmo período. Como isto foi possível? A resposta é simples: muito trabalho, compulsivo apoio à educação em todos os níveis, incentivo à pesquisa e à inovação. Em paralelo, forte apoio às pequenas e médias empresas, onde é mais comum a inovação acontecer. Ao contrário do que se poderia pensar em um primeiro momento, quem fez a economia da Coréia crescer não foram as grandes empresas, como a gigante Sansung. Foram as centenas de milhares de empresas menores que, organizadas em mais de dez mil APLs (Arranjos Produtivos Locais), fortaleceram a economia, viabilizando as empresas maiores e as cadeias produtivas.
No livro temos também boas notícias: o Brasil é considerado um país com alto potencial de inovação, senão ainda no papel de inventor, pelo menos como transformador. Mas, para isso, precisamos rever nossa política de incentivo à inovação, pois apesar de nosso país apresentar um grande potencial de crescimento ao final da atual crise mundial, corremos o risco de perder, mais uma vez, o bonde (ou o avião, como diz Cezar Taurion) da história.
E porque a inovação é tão importante? Como incentivá-la nas empresas brasileiras? Primeiramente, precisamos entender o processo e as suas dificuldades.
A inovação é inerente ao ser humano e, de certa forma, a todos os seres vivos. Para reagir às mudanças no meio ambiente (e sobreviver a elas), é necessário reinventar-se todo o tempo. Mas, como diz Bauer (*), citando a Teoria da Autopoiesis, formulada pelos biólogos chilenos Maturana e Varela (**), os organismos operam, o tempo todo, como "máquina de se manter como já é". Nós somos, biologicamente falando, máquinas de "mais do mesmo". A grande maioria das pessoas é ensinada desde que nasce a valorizar o convívio com quem pensa igual a elas. Nas empresas, isto não é diferente. Valoriza-se o que já sabemos fazer, o que sempre funcionou. E perseguimos a melhoria da eficiência - fazer "mais do mesmo, melhor", diz Bauer.
Como a inovação envolve riscos e também o “pensar diferente”, muitas vezes ela não é incentivada. É até mesmo combatida. Niccolo Macchiavelli já dizia, em seu livro “O Príncipe”, (de 1513, pasmem!) que “nada mais difícil do que implantar um novo sistema. Você terá contra si todos aqueles que estão acostumados com o estado atual das coisas e tímidos defensores da nova realidade. Isto decorre de uma característica da natureza humana de não acreditar na verdade das coisas novas senão depois de uma firme experiência”.
Este é o grande dilema: se não inovarem, os organismos (e as empresas) desaparecerão. Mas, ao mesmo tempo, há uma rejeição à mudança. Muitas vezes, quando ela começa a acontecer, é tarde demais. Como isto se resolve na natureza? É simples: milhares de espécies são extintas, enquanto algumas evoluirão, sobrevivendo e dominando, como fez a espécie humana. Para as empresas, vale a mesma regra, muitas fecharão as suas portas, enquanto outras experimentarão um crescimento assombroso, como foi o caso da Apple, visto neste livro.
A grande diferença é que, para os organismos, o processo é uma loteria, na base da “tentativa e erro”, erro significando a morte. Para as empresas e para a economia em geral, há a possibilidade de uma intervenção racional e intelectual no processo. Várias técnicas e metodologias como Gestão do Conhecimento, Inteligência Organizacional e Gerência de Projetos, entre outras, podem ser utilizadas para incentivar a inovação nas empresas, e com ela estão intimamente relacionadas (***).
Para que o Brasil aproveite as oportunidades que se apresentam, será necessário um amplo debate e utilização de eficientes mecanismos de difusão de novas idéias, principalmente as que dão certo na prática.
Fernando Jefferson
SBGC – Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento –
Diretor e Coordenador do Comitê de Pequenas e Médias Empresas
Technology for Business – Empresa parceira da IBM Brasil
Diretor Executivo
Bibliografia
(*) BAUER, Ruben. Gestão da Mudança: Caos e Complexidade nas Organizações. São Paulo: Atlas, 1998.
(**) MATURANA, H. e VARELA, F. Autopoiesis and Cognition: The realization of the living. Dordrecht: Reidel, 1980; ver também A Árvore do Conhecimento: As bases biológicas da compreensão humana. São Paulo: Palas Athena, 2001.
(***) JEFFERSON, Fernando; GUATIELLO, Heron.; A Gerência de Projetos como Fator Agregador do Conhecimento na Gestão do Processo de Negócio, Dissertação – Prêmio FGV de Excelência - Gerência de Projetos – Fundação Getúlio Vargas - 2005
(***) JEFFERSON, Fernando.; COUTO, Luiz-Evanio D., Gerenciamento de Micro-Atividades em Projetos, Gestão do Conhecimento e Inteligência Organizacional - Livro "Projetos Brasileiros: Casos Reais de Gerenciamento", organizado por Paul Campbell Dinsmore e Américo Pinto - Editora Brasport - 2007
Introdução
A idéia de publicar alguns livros com a coletânea de posts que já escrevi para o meu blog no developerWorks (www.ibm.com/developerworks/blogs/page/ctaurion) vinha me martelando há algum tempo. As minhas observações sobre os acesso ao blog mostravam que depois de algum tempo os posts eram “esquecidos”, uma vez que o ritmo de inserção de novos posts tem sido intenso. Gosto de escrever e um blog me dá a liberdade que as colunas nas revistas especializadas (escrevo para Computerworld Brasil, Mundo Java, Linux Magazine e Espírito Livre), por razões editoriais, não permitem. De maneira geral levanto um post a cada três ou quatro dias. Como escrevo os posts de acordo com o momento, muitas vezes o texto pode até parecer meio deslocado para quem não esteja acompanhando sistemáticamente o tema. O volume de material acumulado, acredito, é bem razoável. O blog começou em janeiro de 2007 e em julho de 2009, quando comecei a preparação desta série de livros, já somava mais de 400 posts.
Surgiu a idéia: por que não agrupar os posts por assuntos e publicá-los para acesso online? Uma conversa com meu amigo, desenvolvedor e escritor, Claudio de Souza Soares, definiu o projeto. Sim, vou publicar os posts em forma de livro eletrônico.
A primeira etapa foi agrupar os posts por temas, identificando as relevâncias entre eles. As tags me ajudaram nisso. Assim, cada assunto ou conjunto de assuntos se tornará um livro. Procurei manter os posts, na medida do possivel iguais aos publicados originalmente. Claro que corrigi alguns erros ortográficos, que passaram em branco quando os posts foram inicialmente levantados.
Este ebook aborda um tema no qual tenho dedicado muita atenção: inovação. O primeiro post sobre o assunto foi levantado em abril de 2007 e de lá para cá foram quase 40 posts, que estão relacionados em ordem cronológica, para melhor entendimento do contexto para os quais foram escritos.
Inovação sempre existiu na nossa sociedade, mas o que vemos ultimamente é uma aceleração do processo. Inovar, em um ambiente econômico cada vez mais desafiador e competitivo, não é mais uma opção, mas uma necessidade de sobrevivência, não apenas para empresas mas também para as nações. A inovação é a arma cada vez mais decisiva na competição por espaços nobres na economia. O Brasil, por exemplo, precisa acelerar o passo se quiser recuperar o atraso provocado por décadas de instabilidade econômica e reserva de mercado, inibidores de inovação. Embora o Brasil participe com 2% do PIB mundial, é responsável apenas por 0,2% das patentes registradas.
Em 2006 a IBM publicou um estudo chamado “CEO Study 2006”, como o título de “Expanding the Innovation Horizon” onde mostrava, na opinião dos mais de 750 CEOs entrevistados, a importância estratégica da inovação. O resultado da pesquisa mostrou que pelo menos 2/3 dos CEOs pretendiam fazer mudanças signficativas nos seus negócios nos próximos dois anos. O relatório pode ser acessado em
http://
Em 2008 o estudo foi repetido, e neste os CEOs afirmam compromissos com mais mudanças e uma atenção maior ainda em inovação. Uma frase de um CEO, extraído deste relatório, exemplifica bem: “The rate of change has increased dramatically. Customers are demanding radical change in product innovation. Our company will need to greatly increase its capabilities to deal with these demands”. Esta outra frase, também extraída do relatório, é emblemática dos tempos atuais: “We have seen more changes in the last ten years than in the previous 90”.
Este estudo foi efetuado com 1130 CEOs de todo o mundo e aponta as características do que chama “The Enterprise of the Future” ou “A Empresa do Futuro”, que são: Hungry for Change (Capaz de se transformar rapidamente. Ao invés de apenas reagir as tendências, ela as desenha e lidera), Innovative Beyond Customer Imagination (Surpreende as expectativas dos clientes cada vez mais bem informados e exigentes), Globally Integrated (Negócio desenhado para explorar as características da globalização), Disruptive by Nature (Muda radicalmente seu business model, criando disrupção na base de competição) e Genuine, not Just Generous (Vai além da filantropia e reflete preocupações genuínas com relação à sustentabilidade social e ambiental).
Portanto, acredito que esta coletânea de posts que debatem diversos aspectos relativos à inovação, inclusive abordando os conceito de Open Innovation, podem ser úteis a quem esteja interessado em estudar um pouco mais o assunto.
Todos os URL que aparecem nos textos foram acessados e checados durante a preparação original dos posts, mas como a Web é extremamente dinâmica, existe a grande possibilidade de alguns destes URL já não existirem ou terem sido alterados, pelos quais pedimos antecipadamente nossas desculpas. Adicionalmente, como nos últimos anos li alguns bons livros sobre o assunto inovação, tomei a liberdade de sugerir sua leitura como material de pesquisa e estudo adicional. Esta relação bibliográfica foi inserida no fim do ebook.
Lembro também que as opiniões expressas neste ebook e em toda a série de ebooks (como o foram no blog) são fruto de estudos, análises e experiêncis pessoais, não devendo em absoluto serem consideradas como opiniões, visões e idéias de meu empregador, a IBM, nem de seus funcionários. Em nenhum momento, no blog e aqui, falo em nome da IBM, mas apenas e exclusivamente em meu nome.
Cezar Taurion
Agosto de 2009
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