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sábado, 10 de julho de 2010

[ECO] Consumir bits e reduzir consumo de átomos? É sério! Já está acontecendo.

Apresso-me a pedir a sua paciência em relação à esta colocação, do mesmo modo que o profissional da IBM, pediu, quando formulou esta proposta no programa Espaço Aberto Ciência e Tecnologia, exibido em 25/01/2010 [1]

Dito isso, vamos à argumentação apresentada, conforme meu entendimento e acréscimos pessoais:

·         Existe um número finito de átomos no Planeta Terra (alguma potência indecente de 10 J )
·         A Humanidade, e tudo que nos cerca, é constituída de átomos (ver abaixo texto: Do que é feito o universo?)
·         Para existir e ter conforto nós consumimos, principalmente, átomos, energia  e informações (bits)
·         Energia não é restrição, é questão tecnológica, desde que desenvolvamos tecnologias para aproveitar os absurdos disponibilizados pelo Sol (biomassa (fotossíntese), painéis de aquecimento / voltaicos), eólica, marés, termais, etc.
·         Informação não é restrição. É voz corrente que vivemos uma overdose de comunicação e informação incapazes de ser processada (aqui tenho restrições: a Humanidade como um todo é capaz de processar a informação que produz)
·         Existe um crescimento, desacelerado nos últimos anos, mas ainda positivo da população da Terra
·         Existe uma expectativa de consumo por parte dos habitantes do Planeta, potencializada pelo desejo do “American Way of Life”, pelos 90% da população do Globo que consomem menos, a maioria bem menos, átomos que os 10% que já estão no “Paraíso do Consumo”.
·         Para os níveis de consumo de átomos atual já estamos além da capacidade do Planeta!
·         Ou seja: é inviável (Lei Física da Conservação da Massa) que 100% da população da Terra obtenha os padrões de consumo dos 10% que são modelo de vida atualmente. O tal “American Way of Life”.

Logo temos algumas opções. Exemplos:

·         Redistribuir os átomos de forma justa entre todos os habitantes do Planeta. Oferece grandes problemas de implementação.
·         Os 10% do “American Way of Life” eliminarem os 90% restantes. Hummm! Quem vai fazer os “trabalhos sujos”? Podem haver problemas de consciência.
·         Adotar um “Knowledge Way of Life”, onde substituamos boa parte de nosso consumo de átomos por consumo de informação (bits).

Alguns exemplos da transição do “American Way of Life” para o  “Knowledge Way of Life”:

·         Ao invés de viajar para uma reunião de trabalho, usar vídeo conferência (TIC)
·         Ao invés de reunir amigos, “reunir-se” em algum mundo virtual (Comunidades virtuais, Sim City e outros jogos na WEB, Secound Life, etc.)
·         Ao invés de ir ao cinema, teatro, palestra, assistir ou participar virtualmente
·         Tele trabalho para evitar deslocamentos ao local de trabalho. Ganhos de qualidade de vida do trabalhador,  ganhos das empresas em investimentos em infra-estrutura, redução de congestionamentos e redução de consumo de combustíveis


[1] 25/01 – Futuros Imaginários  Ver no site 
[http://especiais.globonews.globo.com/cienciaetecnologia/2010/01/ ]  ou em reprises com horários no site.

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JC e-mail 2070, de 08 de Julho de 2002.

Do que é feito o universo?, artigo de Rogério Rosenfeld


Sabemos hoje que cerca de 65% do universo é composto por algo difuso, que não se concentra em galáxias



Rosenfeld, PhD em física pela Universidade de Chicago, é professor livre docente do Instituto de Física Teórica da Unesp. Artigo publicado na "Folha de SP":

Perguntas simples de serem formuladas geralmente têm respostas complexas. Por exemplo, se me perguntassem do que é feita a mesa que usei para escrever este texto, poderia responder que é feita de madeira. A resposta é correta, mas pode não satisfazer totalmente a curiosidade de uma mente inquiridora. 'Mas do que é feita a madeira?' -seria a próxima pergunta. Uma sequência de perguntas desse tipo nos leva logo à fronteira do conhecimento científico no mundo microscópico.

A madeira é feita de moléculas e estas são compostas de átomos. Os átomos são formados por um núcleo pesado, contendo prótons e nêutrons, com elétrons orbitando ao seu redor. A estrutura do átomo, que começou a ser desvendada por lorde Rutherford, nos anos de 1910, é o que aprendemos na escola.

Hoje sabemos que os prótons e nêutrons são formados por outras partículas, denominadas quarks e glúons, mas isso não será relevante para nosso propósito. Portanto, em vez de responder que a mesa é feita de elétrons, quarks e glúons, aqui será suficiente responder que a mesa é feita de átomos.

Aumentando um pouco nosso escopo, vamos atentar para o mundo que nos cerca. Do que é feito o planeta Terra? Sem dúvida, toda a diversidade de nosso planeta pode ser reduzida a átomos. Mas não é só isso. Caso não houvesse luz, não conseguiríamos enxergar nada. A luz é apenas um exemplo particular do que chamamos de radiação eletromagnética, que abrange desde a radiação dos fornos de microondas até os raios x usados para radiografias. Sabemos que a luz é feita de uma torrente de partículas elementares, os fótons.

Um outro ingrediente que temos ao nosso redor, mas que não notamos, são partículas de um tipo diferente, produzidas em reações nucleares como as que ocorrem no Sol ou em reatores aqui na Terra. São os chamados neutrinos, que interagem tão fracamente que bilhões deles podem passar por nossos corpos sem que percebamos. Eles foram detectados na década de 50, com o desenvolvimento dos primeiros reatores nucleares para gerar eletricidade.

Podemos, então, responder, simplificadamente, que no nosso planeta temos átomos, fótons e neutrinos.

Vamos agora iniciar nossa tentativa de responder à pergunta do título do artigo: Do que é feito o universo? Primeiramente, temos que enfatizar algo óbvio: o universo é muito grande. Nossa galáxia, a Via Láctea contém cerca de 100 bilhões de estrelas. O universo contém bilhões de galáxias! Como podemos tentar responder a essa pergunta, se nunca conseguimos sequer enviar espaçonaves às redondezas do nosso sistema solar?

Certamente, temos que inferir a composição do universo a partir de observações realizadas por instrumentos aqui na Terra ou em sua órbita. Como primeira tentativa, poderíamos pensar que o universo é feito das mesmas coisas que estão no nosso planeta: átomos, fótons e neutrinos. De fato, por muitos anos esse foi o paradigma científico. Esse paradigma começou a ruir quando observações iniciadas na década de 30, pelo astrônomo suíço Fritz Zwicky, mostraram que o peso das galáxias (ou, mais precisamente, a quantidade de massa) é cerca de cem vezes maior que o de todas as estrelas da galáxia somadas. Portanto há na galáxia um tipo de matéria que não irradia luz, que ficou conhecida como matéria escura.

Na década de 70, avanços em cosmologia mostraram como calcular a quantidade de átomos de elementos leves, como o hélio e o deutério, que teriam sido produzidos nos três primeiros minutos do universo. Para explicar as quantidades observadas desses elementos leves em galáxias distantes, apenas uma fração muito pequena do universo, aproximadamente 5%, seria composta deátomos. Uma fração muito menor corresponderia a fótons e neutrinos. Logo a maior parte do universo não é feita do mesmo material de que nós somos feitos, de átomos. Mas qual a composição dos outros 95% do universo?

Não temos uma resposta definitiva ainda. Chegamos à fronteira do conhecimento macroscópico. A dinâmica das galáxias indica que 30% do universo é composto por um novo tipo de partícula elementar, responsável pela matéria escura. Possíveis candidatos são postulados por várias teorias, mas ainda não foram produzidos no laboratório. Eis a conexão entre o macro e o microcosmo.

Graças a uma descoberta em 1998, considerada pela revista 'Science' uma das mais importantes do século 20, sabemos hoje que cerca de 65% do universo é composto por algo difuso, que não se concentra em galáxias e que provoca a expansão acelerada do universo. Uma analogia imperfeita seria a de um meio extremamente tênue que permeia todo o universo. Para dar uma idéia, o peso desse meio, contido em um volume igual ao volume da Terra, seria de apenas um centésimo de grama. Esse meio poderia ser formado pela chamada constante cosmológica, proposta por Albert Einstein para explicar por que o universo seria estático, que era o paradigma do início do século 20.

Com a descoberta da expansão do universo pelo astrônomo Edwin Hubble, Einstein reconheceu nessa constante seu maior erro. Talvez Einstein estivesse certo, afinal. Há outros modelos alternativos para esse meio, mas ainda aguardamos mais fatos experimentais para confirmá-los ou excluí-los.

Em suma, eis a receita de universo: 5% de átomos, 30% de uma partícula elementar ainda desconhecida e 65% de um meio difuso cuja origem não conhecemos. A resposta que temos hoje está longe de ser satisfatória. Ainda bem, pois terei no que trabalhar amanhã.
(Folha de SP, 7/7) 

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