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quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Evoluindo de PRODUTIVIDADE para CRIATIVIDADE. Será que a América do Norte, Europa e Japão não estão atrasados nesta Mudança de Perspectiva ? Presos a uma Visão de Sociedade que já não funciona mais ? (Riqueza com extinção / exportação de empregos)

Proposição:

O desafio de nossos avós e pais foi a Produtividade (Produção / Horas de trabalho), a equação resumo da Sociedade Industrial.

Nosso desafio é a Criatividade (Idéias / Ócio (horas de)), a equação resumo da Sociedade Pós-Industrial (ou do Conhecimento).  [1]


[1] O professor De Masi detalha - em um capítulo do seu livro O Futuro do Trabalho - a Economia do Ócio, fundada nesta equação, para demonstrar que a proposta não é estimular a vagabundagem.

E sim reformar a sociedade para otimizar a eficácia no uso do recurso mais precioso da Humanidade, a Criatividade, que até aqui ficava sacrificada, para a maioria das pessoas, em beneficio do trabalho manual e/ou executivo, requerido para a sobrevivência, e cada vez mais delegado a povos de regiões menos desenvolvidas e às máquinas.

Após um período, o mais curto possível, de educação e aculturação, o nosso ideal deve ser liberar todos os humanos dos trabalhos repetitivos (manuais ou intelectuais), para exercerem seu pleno potencial, como parte da grande Rede Neural de Gaia (nosso planeta, segundo uma teoria de ecologistas).


Alguns dados básicos:

            Expectativa de vida antes da industrialização: 30 a 40 anos (fome, epidemias, guerras, etc. era a regra para a maioria da humanidade). Este dado não sofreu grande variação desde a antiguidade clássica (gregos e romanos) ate o século XVIII / XIX (1800 / 1900).

            Expectativa de vida nos países industrializados: 75 a 80 anos (fome, epidemias, guerras, etc. tornaram-se eventos excepcionais para estas populações). Obra gigantesca da humanidade em apenas dois séculos, aplicando ciência (tecnologia e administração cientifica) nas organizações políticas, produtivas, médicas, urbanísticas, etc. Tudo isto construído com uma minoria de administradores bem educados, gerindo uma grande maioria de trabalhadores analfabetos (no inicio da industrialização) ou com baixa qualificação (mão-de-obra barata, própria ou do terceiro mundo).

            Jornada de trabalho antes da industrialização: 16 a 20 horas (para adultos e crianças), 6 dias por semana. Ou seja: 96 a 120 horas de trabalho por semana.

            Jornada de trabalho nos países industrializados: 7 a 8 horas (para parte dos adultos), 5 dias por semana. Escolarização cada vez maior e aposentadoria precoce são também (principalmente?) meios de evitar aumento do índice de desemprego, o grande fantasma dos governos democráticos. Ou seja: 35 a 40 horas de trabalho por semana.

            Esta grande redução da jornada de trabalho (1/3 da praticada no inicio da industrialização) ocorreu nos últimos 50 anos, infelizmente, custando a Primeira Guerra Mundial, a Grande Depressão, a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria.

            Parte da vida dedicada a ser criado/empregado, antes da industrialização:

                  25 anos (dos 10 aos 35 anos)  *  53 semanas/ano *  108 horas/semana = 143.100 horas.

                 Tempo de vida = 35 anos * 24 horas/dia * 7 dias/semana * 53 semanas/ano = 311.640 horas.

                 Portanto, 46 % da vida dedicada a ser criado/empregado.

            Parte da vida dedicada a ser criado/empregado, nos países industrializados:

                40 anos (dos 20 aos 60 anos)  *  53 semanas/ano *  37,5 horas/semana = 79.500 horas.

                Tempo de vida = 77,5 anos * 24 horas/dia * 7 dias/semana * 53 semanas/ano = 690.060 horas.

                Portanto, 12 % da vida dedicada a ser criado/empregado.
                (Isto supondo que o jovem consiga um emprego aos 20 anos e trabalhe continuamente até os 60 anos (situação rara nos dias atuais)).


            O “work-aholic” (viciado em trabalho) é uma criação japonesa, que só foi útil aos tigres asiáticos, enquanto houve territórios “virgens” a “colonizar” no Ocidente.

            Quando a reação ao hiper taylorismo / hiper fordismo asiático foi bem-sucedida, voltamos todos ao problema de “falta de espaço econômico” que, no inicio do século XX, causou a grande crise do colonialismo, levando aos dramas mundiais citados acima (Primeira Guerra Mundial, Grande Depressão, Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria.).

Assim é preciso voltar ao processo que possibilitou os “Anos Dourados”, posteriores a Segunda Guerra:geração de renda (demanda) com redução de jornada de trabalho, substituindo a mobilização da guerra econômica (competitividade) pela cooperação na construção de um mundo mais justo.

Precisamos de um “Plano Marshall Mundial”, muito criativo para tratar as restrições ecológicas.

 Lembremos ainda que a sociedade asiática, típica do modelo tigre, padece de graves problemas de alcoolismo, desestruturação familiar, suicídio infantil, prostituição.

Conclusão:

Precisamos de idéias, de colaboração, para evitarmos graves crises (violência, doenças psicológicas, dependência química (cocaína, álcool, fumo, etc..), problemas ecológicos), causadas, basicamente, por mentes não conscientes (“alienadas”) de seus verdadeiros interesses e dos métodos eficazes para atingi-los.

Temos experiências históricas de duas formas de chegar ao nosso objetivo: através de crises sucessivas, ou através da inteligência (e desta vez é até mais fácil, pois não precisamos reconstruir o inimigo, como ao fim da Segunda Guerra).

Idéias e colaboração ocorrem tipicamente no tempo livre das pessoas, nas organizações do terceiro setor (organizações não governamentais), onde valores nobres e voluntariado predominam. E dificilmente em organizações onde predominam a competição por bens materiais (dinheiro).

Como as pessoas terão cada vez mais tempo livre - racionalmente, via redução de jornada - ou - dolorosamente, via aumento do desemprego - é responsabilidade das pessoas conscientes do momento atual, utilizar criativamente os meios disponíveis, para reestruturar a sociedade, tornando este tempo livre fonte de crescimento individual e social, e não fonte de tédio e desespero.

Isto só pode ser feito por aumento da consciência de que somos parte de um único organismo (nosso pequeno planeta azul), e todo organismo só e saudável, se todos os seus órgãos forem saudáveis.

E, parece-me interessante que neste momento, nossa espécie, a parte consciente do planeta, seu cérebro (perdoem-me esta crise de antropocentrismo), atingiu 6 bilhões de indivíduos. Trabalhemos para utilizar todo este imenso potencial.

Nossos pais e avós nos legaram a solução das angústias físicas, resolvendo a equação da produtividade.

Trabalhemos para legar aos nossos filhos e netos a solução das angústias intelectuais, emocionais e espirituais, resolvendo a equação da criatividade.

Nós herdamos o conhecimento para garantir a sobrevivência física.

Que nossos descendentes herdem a felicidade.


Referências:

As idéias acima foram estimuladas por uma leitura pessoal de parte das idéias do sociólogo do trabalho Domenico De Masi. Para outros que queiram se beneficiar da clareza, humor, poder de síntese e esperança deste autor, recomendo os livros abaixo.

·         Desenvolvimento sem trabalho.
·         O futuro do trabalho.
·         A sociedade pós-industrial
·         A emoção e a regra.
·         O Ócio Criativo

·                 Criatividade e Grupos Criativos
Em Criatividade e Grupos Criativos, Domenico De Masi refaz o percurso da história da humanidade à luz da tensão febril que a impele, sem parar, a corrigir a natureza com a cultura: da roda aos óculos, do paraíso à Magna Carta, das cidades da Mesopotâmia à linha de montagem, das catedrais góticas ao Projeto Genoma, do cinema ao jazz.

Resumo do livro O Ócio Criativo

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